25 de junho de 2019

A vez da inteligência artificial na medicina

No mundo e no Brasil, a inteligência artificial passa a ser adotada em larga escala na medicina.

Em 2006, a gestão do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, projetava que seriam necessários 400 milhões de reais para a construção de um novo prédio num futuro próximo. O cálculo levava em conta a expansão da oferta de leitos de internação para atender a uma demanda crescente de pacientes. Mais de uma década se passou e o plano não foi colocado em prática. O motivo? A expansão se provou desnecessária. Na época em que o plano foi elaborado, o setor de saúde ainda não vislumbrava a transformação que o uso de tecnologias como inteligência artificial e big data poderia trazer para a gestão dos hospitais. Nos últimos dez anos, o setor de fluxo de pacientes do hospital vinha tentando reduzir o tempo de permanência em internação. Em 2017, começaram os investimentos em algoritmos de inteligência artificial para substituir o trabalho braçal. Usando a imensa base de dados da instituição, a tecnologia passou a indicar desde a rotina de atendimento mais eficiente até o horário de alta mais adequado para liberar o leito para o próximo paciente. A ferramenta permitiu uma redução de 32% no tempo de internação dos pacientes. “Quando o médico deixa para as máquinas o trabalho repetitivo e a análise de dados, ele se dedica ao cuidado exclusivo do paciente e entrega um serviço mais sofisticado”, diz Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

A experiência de um dos hospitais mais renomados do Brasil começa a se repetir em instituições do mundo todo e promete revolucionar a oferta de serviços na área de saúde. Nos últimos anos, o avanço acelerado das tecnologias, a ampliação do banco de dados e a formação de profissionais permitiram o desenvolvimento acelerado de algoritmos voltados para o setor. Muitas aplicações já passaram da fase de ser encaradas como experimentais e buscar a validação dos profissionais de saúde. Aprovadas na fase de testes, as soluções com inteligência artificial agora devem ser disseminadas nos sistemas públicos e privados. “Estamos nos primeiros passos de uma maratona, ao final da qual o tratamento de saúde será guiado pelos dados”, diz Alexandre Chiavegatto Filho, diretor do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde da Universidade de São Paulo. O pesquisador foi um dos debatedores do EXAME Fórum Saúde, realizado em São Paulo no dia 12 de junho.

O que já foi testado nessa seara mostra um potencial excepcional de mudar radicalmente a medicina. No momento, os avanços mais concretos estão nos diagnósticos por imagem, nos quais algoritmos de inteligência artificial conseguem, por exemplo, detectar que lesões aparentemente inofensivas em mamografias são, potencialmente, letais. Os cientistas também estão desenvolvendo sistemas que podem prever se uma pessoa desenvolverá Alzheimer ou antecipar a progressão de condições como esclerose múltipla e Parkinson. Mas há espaço para algoritmos espertos em qualquer que seja a área da saúde.

Nos Estados Unidos, recentemente o plano da saúde Symphony PostAcute NetWork incorporou a inteligência artificial para analisar dados de seus mais de 80000 clientes e gerar previsões e recomendações que auxiliam os tratamentos. Com a tecnologia, a taxa de readmissão de pacientes caiu de 21% para menos de 19%, garantindo uma economia de 13 000 dólares por internação. Por isso, os investimentos nessas novas tecnologias andam a passos largos. Um levantamento recente da consultoria de gestão Accenture com 6 000 executivos de saúde, localizados em 27 países, mostrou que o tema virou prioridade. Ao todo, 94% responderam que os investimentos em inteligência artificial cresceram exponencialmente nos últimos três anos devido à adoção de novas tecnologias. De acordo com a consultoria BCG, o investimento global em inteligência artificial no setor de saúde deverá alcançar 8 bilhões de dólares em 2022. Outro estudo da Accenture analisa que a economia americana deverá economizar 150 bilhões de dólares em 2026 com a incorporação de algoritmos em diferentes serviços e tratamentos de saúde. Apenas a utilização da tecnologia em cirurgias assistidas por robôs poderá representar uma redução de gastos da ordem de 40 bilhões de dólares ao ano. A ajuda que enfermeiras virtuais poderão trazer é estimada em outros 20 bilhões de dólares. Num país que gasta 3,6 trilhões de dólares por ano com saúde, toda economia é bem vinda.
“A rapidez com que a inteligência artificial está sendo aplicada à saúde é algo que não foi experimentado por outros setores, que estão investindo num ritmo mais lento no uso da ferramenta”, afirma Renê Parente, diretor executivo para as áreas de saúde, educação e serviços públicos da Accenture América Latina.

Fonte: Exame

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